“Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas mas jamais conseguirão deter a primavera”. (Che Guevara)
O psicanalista Jurandir Freire da Costa em jornal de grande circulação (1.999) alertava para a necessidade de um novo estilo de vida, de se construir uma história e uma cultura em que a liberdade volte a ser sinônimo de possibilidade de pensamento e reflexão crítica. É preciso segundo ele, reagir, não se conformar com a paralisia da vontade e vencer a banalização da vida e da morte a que somos submetidos cotidianamente e dessa forma, criar um novo modelo cultural.
Os ideais democráticos da Revolução Francesa que defendiam os conceitos
de liberdade, fraternidade e igualdade, ideais que uniam o coletivo, estão
sendo varridos para dar lugar ao individualismo de uma cultura de sensações.
A morte deixou de ter o caráter de perda que tinha na sociedade tradicional
e nesse universo, ela está perdendo o impacto afetivo.
Mais que um debate sobre a ética de morrer com dignidade, passamos a uma
discussão sobre a técnica da sobrevida – se a morte é cardíaca, cerebral ou dos
tecidos. Até onde se pode dizer que a pessoa morreu, até onde vão os desejos
dela e de seus familiares?
Embora estejamos expostos à morte todos os dias – de forma drástica e
violenta através da mídia, a morte é sempre a dos outros, longe de nossa
realidade. Isso tudo resultado do domínio e predomínio do econômico e do
material, em detrimento dos valores éticos, morais e espirituais.
É necessário refletir diante da paralisia da vontade, da cultura da
impotência a que somos submetidos diante do extermínio em massa pela tecnologia
da destruição.
Mascaramos a ideia da morte através da supervalorização do corpo, para
não refletir sobre o fim da consciência e deparamo-nos assim, com a perda da
identidade.
Os ideais transcendentais de se perpetuar através da música, de uma obra
de arte ou até da própria família, cedem lugar ao imediatismo do prazer, da beleza,
da juventude, da esbelteza e da força física.
Nunca, a cultura do corpo como medida de identidade, foi tão forte no
Ocidente.
Anteriormente as gerações queriam algo mais duradouro, que permanecesse
na cultura depois de seu desaparecimento.
Isso foi varrido. Restou-nos o nosso sentido de viver, nossos
sentimentos e nossa corporeidade – a cultura da sensação, que instalou a ideia
de que precisamos recorrer ao corpo como critério de identidade.
Lucrecia Anchieschi
www.apenasumacidada.blogspot.com
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