Translate

sábado, 12 de setembro de 2020

Humanismo Ameaçado

                                                  

                                                      

 “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas mas jamais conseguirão deter a primavera”. (Che Guevara)

O psicanalista Jurandir Freire da Costa em jornal de grande circulação (1.999) alertava para a necessidade de um novo estilo de vida, de se construir uma história e uma cultura em que a liberdade volte a ser sinônimo de possibilidade de pensamento e reflexão crítica. É preciso segundo ele, reagir, não se conformar com a paralisia da vontade e vencer a banalização da vida e da morte a que somos submetidos cotidianamente e dessa forma, criar um novo modelo cultural.

Os ideais democráticos da Revolução Francesa que defendiam os conceitos de liberdade, fraternidade e igualdade, ideais que uniam o coletivo, estão sendo varridos para dar lugar ao individualismo de uma cultura de sensações.

A morte deixou de ter o caráter de perda que tinha na sociedade tradicional e nesse universo, ela está perdendo o impacto afetivo.

Mais que um debate sobre a ética de morrer com dignidade, passamos a uma discussão sobre a técnica da sobrevida – se a morte é cardíaca, cerebral ou dos tecidos. Até onde se pode dizer que a pessoa morreu, até onde vão os desejos dela e de seus familiares?

Embora estejamos expostos à morte todos os dias – de forma drástica e violenta através da mídia, a morte é sempre a dos outros, longe de nossa realidade. Isso tudo resultado do domínio e predomínio do econômico e do material, em detrimento dos valores éticos, morais e espirituais.

É necessário refletir diante da paralisia da vontade, da cultura da impotência a que somos submetidos diante do extermínio em massa pela tecnologia da destruição.

Mascaramos a ideia da morte através da supervalorização do corpo, para não refletir sobre o fim da consciência e deparamo-nos assim, com a perda da identidade.

Os ideais transcendentais de se perpetuar através da música, de uma obra de arte ou até da própria família, cedem lugar ao imediatismo do prazer, da beleza, da juventude, da esbelteza e da força física.

Nunca, a cultura do corpo como medida de identidade, foi tão forte no Ocidente.

Anteriormente as gerações queriam algo mais duradouro, que permanecesse na cultura depois de seu desaparecimento.

Isso foi varrido. Restou-nos o nosso sentido de viver, nossos sentimentos e nossa corporeidade – a cultura da sensação, que instalou a ideia de que precisamos recorrer ao corpo como critério de identidade.

                             Lucrecia Anchieschi

                                        www.apenasumacidada.blogspot.com 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Homem com H

Assisti há dias no Teatro Santander o belíssimo espetáculo "Ney Matogrosso - Homem com H" interpretado magnificamente pelo ator Re...